Osseointegração de implantes dentários: quais suas etapas biológicas e como suas propriedades físico-químicas afetam seu sucesso clínico?

A biologia envolvida no microambiente ao redor dos implantes dentários é bastante complexa e não há consenso sobre os eventos biológicos hierárquicos associados aos estágios iniciais da osseointegração. No entanto, as principais etapas biológicas são agrupadas em 06 estágios muito bem definidos, como segue:

  1. Contato da superfície do implante com o sangue do hospedeiro;
  2. Interação e revestimento por proteínas do sangue;
  3. Formação do coágulo sanguíneo/tempestade de fatores de crescimento;
  4. Diferenciação das células;
  5. Crescimento ósseo aposicional e angiogênese;
  6. Turnover ósseo.

Coagulo sanguíneo interfere na osseointegração de implantes dentários?

Concomitantemente à adsorção de proteínas, a agregação de plaquetas e formação de coágulos e rede de fibrina consequentes à liberação local de elementos sanguíneos por vasos lesados durante os procedimentos cirúrgicos operacionalizam importante etapa da osseointegração.

Muitas dessas moléculas pertencentes ao coágulo sanguíneo são extravasadas pelo aumento da permeabilidade vascular que está ativamente relacionada na cicatrização de feridas e, neste contexto, a fibrina apresenta uma série de propriedades estruturais e bioquímicas importantes e decisivas, fornecendo um estroma físico e funcional provisório, com propriedades pró-angiogênicas capazes de determinar eventos paralelos de vascularização da lesão e tecido reacional e promover, neste arcabouço, pontos diversos de interação com células residentes e de migração através da modulação da atividade de integrinas, presentes nas membranas dessas células e já discutido anteriormente.

Outro papel valioso sobre o coágulo e rede de fibrina é sua capacidade de sequestrar plaquetas e fatores de crescimento, protegendo-os da degradação imediata por proteases, e induzindo a expressão de moléculas pró-angiogênicas como IL-8 e fator tecidual.

As propriedades físico-químicas de implantes dentários afetam a eficiência da adesão celular e o desempenho à primeira vista requer um revestimento bioativo e seletivo de proteínas plasmáticas capazes de ativar posteriormente as integrinas e, neste sentido, atualmente se sabe que superfícies hidrofílicas desenvolvem melhor esses eventos biológicos precoces de osseointegração.

Quais parâmetros biológicos devem ser considerados na proposição de uma superfície bioativa de implantes dentários?

Por trás da osseointegração ideal dos implantes dentários, espera-se que as superfícies bioativas realizem estágios biológicos onde o microambiente periimplantar recapitule mecanismos de osteogênese, a saber:

  1. Proporcionar adsorção de proteínas plasmáticas adesivas contendo domínio RGD evitando proteínas anti-aderentes;
  2. Concentração de células e plaquetas em rede de fibrina;
  3. Melhorar quimioatração de células indiferenciadas com comprometimento ósseo;
  4. Fornecer um microambiente com células e número ideal de plaquetas expressando VEGF;
  5. Efeito bifásico na estimulação de osteoblastos e células endoteliais por meio do acoplamento de osteogênese e angiogênese;
  6. Sinais extracelulares garantindo a ativação das integrinas;
  7. Regulação da atividade da proteína Src;
  8. Regulação da remodelação da MEC e emissão de microvesículas mineralizantes por osteoblastos maduros;
  9. Remodelamento ósseo pelo controle da osteoclastogênese.

Quem compõem o microambiente periimplantar?

O microambiente periimplantar é constituído por células ósseas e imunológicas, além de plaquetas decorrentes do coágulo sanguíneo e uma rede complexa de fibrina. Destaca-se que, com a remodelação do coágulo sanguíneo, há liberação de fatores de crescimento que guiam a diferenciação de células e promovem a osseointegração dos implantes.

William Zambuzzi

Doutor em Bioquímica pelo programa de Biologia Funcional e Molecular – UNICAMP; Professor Associado (MS.5, Livre-docente) na disciplina de Bioquímica – UNESP; Pesquisador e Orientador de trabalhos em áreas de Bioquímica e Biologia Celular, com ênfase em Mecanismos de Transdução de Sinais em células de mamíferos; Orientador alunos de IC, Mestrado e Doutorado; Vice-Diretor do Instituto de Biociências de Botucatu, UNESP; UNESP – São Paulo State University, Biosciences Institute, Department of Chemical and Biological Sciences, Botucatu, 18618-970, São Paulo, Brazil.

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